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Desespero e Fé: Judeus Forçados a Trabalhar nas Câmaras de Gás Durante o Holocausto

Judeus Forçados a Trabalhar nas Câmaras de Gás Durante o Holocausto

Eles eram conhecidos como Sonderkommandos — integrantes de uma unidade especial criada pelos nazistas para atuar em campos de extermínio como Auschwitz-Birkenau durante o Holocausto.


No entanto, não eram soldados alemães nem aliados.

As unidades de Sonderkommandos eram compostas por prisioneiros judeus deportados de 16 países diferentes, e suas atividades sustentavam a máquina de morte nazista.

"Trabalhei nos crematórios. Transportava pessoas [corpos] das câmaras de gás para os fornos", recordou Dario Gabbai.


Esse ex-prisioneiro de Auschwitz foi uma das últimas testemunhas oculares da chamada "solução final" — o plano dos nazistas para exterminar o povo judeu da Europa, que resultou no assassinato de seis milhões de judeus.


O complexo de Auschwitz-Birkenau é o cenário do maior assassinato em massa da história da humanidade — estima-se que 1,1 milhão de pessoas perderam a vida lá, sendo mais de 90% judeus. Esse número supera as perdas sofridas pelo Reino Unido e pelos EUA durante toda a Segunda Guerra Mundial.


Auschwitz-Birkenau foi libertado pelas tropas soviéticas em 27 de janeiro de 1945, data que agora é commemorada como o Dia da Memória do Holocausto.


Judeus Forçados a Trabalhar nas Câmaras de Gás Durante o Holocausto

Os membros do Sonderkommando eram forçados a colaborar no processo de assassinatos. As unidades paramilitares de elite de Hitler, conhecidas como SS, eram as responsáveis pelas execuções.


Antes da cremação, os sonderkommandos tinham a tarefa de procurar implantes, como dentes de ouro, e objetos de valor nas vítimas.


Dario Gabbai tinha a função específica de cortar e coletar os cabelos das mulheres assassinadas.


Décadas depois, ao compartilhar suas memórias com a USC Shoah Foundation, uma organização americana dedicada a entrevistar sobreviventes do Holocausto, ele refletiu: "Perguntei a mim mesmo: como posso sobreviver? Onde está Deus?".


Um polonês lhe disse para se manter forte, e Gabbai levou esse conselho a sério. "Eu disse a mim mesmo: sou um robô... feche os olhos e faça o que precisa ser feito, sem questionar muito", acrescentou.


Na década de 1980, o historiador do Holocausto Gideon Greif começou a investigar a história dos sonderkommandos, documentando a experiência de 31 deles em seu livro "We Wept Without Tears" ("Choramos Sem Lágrimas", em tradução livre).


Um dos sonderkommandos que Greif documentou foi Ya'akov, irmão de Dario Gabbai, que viu dois primos chegarem à câmara de gás e os orientou a se sentar perto da liberação do gás, para uma morte rápida e indolor. "Por que eles deveriam sofrer tanto?", explicou ele mais tarde.


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Josef Sackar, o primeiro sonderkommando que Greif conheceu em 1986, frequentemente trabalhava onde as mulheres eram obrigadas a se despir. "Eu virava a cabeça para o lado e tentava garantir que elas não se sentissem muito constrangidas", disse ele.


Shaul Chasan revelou que tinha que retirar os corpos das câmaras de gás e colocá-los nos elevadores que levavam aos crematórios, sempre se esforçando para que os corpos não fossem arrastados pela sujeira.


Um testemunho comovente veio de um grupo de crianças polonesas nuas que começou a cantar "Shema Yisrael", uma oração judaica, enquanto entravam na câmara de gás com disciplina impressionante.


O memorial do Holocausto de Israel, Yad Vashem, destaca que os assassinatos aumentaram após a deportação dos judeus húngaros em maio de 1944. "Em apenas oito semanas, cerca de 424 mil judeus foram enviados para Auschwitz-Birkenau."


O número de mortes excedia a capacidade dos crematórios, mas o oficial alemão Otto Moll ordenou que os sonderkommandos cavassem valas para queimar os corpos. Uma foto clandestina tirada por um sonderkommando revela corpos sendo incinerados em uma vala a céu aberto, que mais tarde serviu como evidência das atrocidades.


Os sonderkommandos recebiam mais comida e melhores condições de vida do que outros prisioneiros, que se alimentavam apenas de sopa. No entanto, esse trabalho oferecia pouca proteção, pois os nazistas costumavam exterminar os membros do sonderkommando a cada seis meses e convocar novos recrutas. Medidas de punição brutais eram aplicadas para incutir medo, incluindo fuzilamentos e torturas. "Eles estavam em estado de choque constante, testemunhando o assassinato de milhares de judeus diariamente. Foi um grande desafio sobreviver", disse Greif.


Apesar das condições, em um momento de desespero, os sonderkommandos planejaram uma rebelião conhecida como a revolta do sonderkommando. "Dois irmãos estavam envolvidos na insurreição de 7 de outubro de 1944. Foi uma revolta judaica, uma história de coragem que merece ser lembrada", afirma Greif. Naquele dia, alguns prisioneiros atacaram os guardas da SS com pedras e incendiaram um crematório, mas a revolta foi rapidamente reprimida, resultando na morte de 451 sonderkommandos.


Outros, como Marcel Nadjari, expressaram sua indignação em anotações. "N

ão estou triste por morrer, mas por não poder me vingar como gostaria", escreveu Nadjari em novembro de 1944. Ele escondeu seu manuscrito de 13 páginas em uma garrafa térmica, enterrando-a para preservar suas palavras. Essas anotações, conhecidas como os Pergaminhos de Auschwitz, foram recuperadas e decifradas, oferecendo valiosas informações sobre os crimes.


Apenas cerca de 100 sonderkommandos sobreviveram à guerra, e alguns desempenharam um papel ativo nos julgamentos dos crimes de guerra. Henryk Tauber testemunhou contra o comandante da SS, Otto Moll, lembrando como ele jogou pessoas vivas em valas em chamas. Moll foi condenado e enforcado por sua participação em uma "marcha da morte".

No entanto, muitos criminosos nunca foram punidos. De aproximadamente 7 mil funcionários de Auschwitz, apenas cerca de 800 foram levados à justiça, de acordo com a série de documentários da BBC/PBS, "Auschwitz". Greif também testemunhou contra supostos criminosos nazistas em tribunais europeus, onde alguns ainda estão sendo julgados.


Dario Gabbai se mudou para Los Angeles, onde faleceu em 2020. Em 2015, ele visitou Auschwitz para marcar o 70º aniversário da libertação do campo e compartilhou o que o motivou a seguir em frente.

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